sexta-feira, 6 de julho de 2012

Apontamentos sobre a greve – Condicionando a adesão


Dez fazendeiros se comprometeram a fazer a doação de mil litros de leite cada para um povoado que enfrentava fome. Um deles pensou consigo: “ora, já que nove darão mil litros de leite, vou dar mil litros de água e misturar ao deles. No final, de toda forma, teremos dez mil litros de leite”. Muito bem pensado. O problema é que todos tiveram a mesma idéia...

Se por um lado é certo que devemos respeitar a posição dos que são contrários à greve, por outro é natural que procuremos entender quais são os motivos que levam alguns colegas a hesitar tomar parte no movimento. Assim como é precário justificar a não-adesão numa antipatia pessoal em relação ao sindicato ou a um ou outro colega, é igualmente pouco razoável condicionar a adesão à posição de outrem, quaisquer que sejam as pessoas em questão. A decisão de apoiar ou não uma greve é (ou deveria ser), como qualquer decisão política, algo de foro íntimo, que remete à nossa individualidade, ao que temos de mais precioso, nossa ética pessoal – como quando votamos, que buscamos quem representa melhor nossas idéias, não importando se é o candidato mais bonito/rico/amistoso, se é nosso vizinho, se é o mesmo escolhido pelos nossos pais ou pares. Trata-se de um momento em que afirmamos a nossa independência intelectual, que é o que nos faz adultos livres e responsáveis, afinal.

Dito isso, ao longo dos últimos dias ouvimos de várias pessoas que só iriam aderir à greve “se o RJ aderir” ou se determinados colegas aderirem. Como qualquer posição, essa deve ser respeitada, mas nem por isso está acima de questionamentos. Por isso convido os que partilham dessa opinião a problematizá-la e refletir sobre o assunto. Deixemos de lado por um instante que o RJ, no caso, já está em greve; o que significa, na prática, só entrar se X, Y ou Z, entrarem? Faz alguma diferença sobre o que você pensa sobre o seu salário, por exemplo? Será que por trás disso não estaria um sentimento ilusório de que no coletivo, o que eu faço pesa menos, ou que se o outro parar também, a minha ausência será menos sentida? Mas o que isso diz sobre o que você acredita, o que você é? Qual o sentido de aderir só depois “do movimento tomar corpo”? O movimento não precisa justamente de você pra isso? E todos os colegas que já estão em greve, de acordo com essa lógica não deveriam pesar também na balança?

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