Dez fazendeiros se comprometeram a fazer a doação de mil litros de leite
cada para um povoado que enfrentava fome. Um deles pensou consigo: “ora, já que
nove darão mil litros de leite, vou dar mil litros de água e misturar ao deles.
No final, de toda forma, teremos dez mil litros de leite”. Muito bem pensado. O
problema é que todos tiveram a mesma idéia...
Se por um lado é certo que
devemos respeitar a posição dos que são contrários à greve, por outro é natural
que procuremos entender quais são os motivos que levam alguns colegas a hesitar
tomar parte no movimento. Assim como é precário justificar a não-adesão numa
antipatia pessoal em relação ao sindicato ou a um ou outro colega, é igualmente
pouco razoável condicionar a adesão à
posição de outrem, quaisquer que sejam as pessoas em questão. A decisão de
apoiar ou não uma greve é (ou deveria ser), como qualquer decisão política,
algo de foro íntimo, que remete à nossa individualidade, ao que temos de mais precioso,
nossa ética pessoal – como quando votamos, que buscamos quem representa melhor
nossas idéias, não importando se é o candidato mais bonito/rico/amistoso, se é
nosso vizinho, se é o mesmo escolhido pelos nossos pais ou pares. Trata-se de
um momento em que afirmamos a nossa independência intelectual, que é o que nos
faz adultos livres e responsáveis, afinal.
Dito isso, ao longo dos últimos dias ouvimos de várias pessoas que só
iriam aderir à greve “se o RJ aderir” ou se determinados colegas aderirem. Como
qualquer posição, essa deve ser respeitada, mas nem por isso está acima de
questionamentos. Por isso convido os que partilham dessa opinião a
problematizá-la e refletir sobre o assunto. Deixemos de lado por um instante
que o RJ, no caso, já está em greve; o que significa, na prática, só entrar se
X, Y ou Z, entrarem? Faz alguma diferença sobre o que você pensa sobre o seu
salário, por exemplo? Será que por trás disso não estaria um sentimento
ilusório de que no coletivo, o que eu
faço pesa menos, ou que se o outro parar também, a minha ausência será menos
sentida? Mas o que isso diz sobre o que você acredita, o que você é? Qual o
sentido de aderir só depois “do movimento tomar corpo”? O movimento não precisa
justamente de você pra isso? E todos os colegas que já estão em greve, de
acordo com essa lógica não deveriam pesar também na balança?
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