Enviado por Míriam Leitão e Valéria Maniero -
27.07.2012
|15h00m
COLUNA NO GLOBO
O país não sabe qual é a taxa de desemprego de junho, porque uma greve no IBGE impediu que se calculassem os dados coletados no Rio. Como tem sido mostrado, o mercado de trabalho está aquecido, mas continuará assim? O professor José Pastore, especialista no tema, diz que não há garantia. As greves do setor público têm uma lógica própria. Nas empresas, há riscos em setores onde há demanda de mão de obra, como no de petróleo e gás.
Os dissídios dos petroleiros, bancários e metalúrgicos são em setembro, outubro e novembro. A tensão continuará no ar. São áreas que têm quadros distintos, o que pode produzir um ambiente de paralisações. O mercado de trabalho está passando por uma transição que cria alguns incentivos e alguns desincentivos ao movimento grevista.
Em geral, quando o mercado está aquecido, com maior demanda por trabalhadores do que oferta, é a hora em que, normalmente, explodem greves. Ou em conjuntura de crise aguda nos países, em que a paralisação é uma forma de protesto contra a situação geral, o que não é o caso aqui.
— O mercado de trabalho em algumas áreas está bem aquecido, ou seja, é difícil encontrar trabalhadores. Há falta de mão de obra no setor de óleo e gás, petroquímica e em algumas culturas agrícolas. O café, por exemplo, perdeu bastante oferta de trabalhadores, porque a indústria que foi para o interior foi um ponto de atração para a mão de obra que estava antes na agroindústria. No setor de mineração, mesmo com a queda das commodities, há uma procura acelerada por profissionais — avalia Pastore.
Ele acha que no setor público há uma mistura de fatos tornando o ambiente mais propício para greves.
— Há uma eleição, o que sempre torna o governo mais sensível às reivindicações. O professorado parado e o ex-ministro da Educação concorrendo à prefeitura levaram o governo a elevar sua proposta inicial. Em vários outros setores está havendo um efeito das concessões feitas pelo governo Lula. Ele deu aumentos escalonados no tempo, comprometendo a administração seguinte. O que ele prometeu para ser cumprido pelo governo Dilma já é garantido, e os servidores pedem mais. Só que o governo está tendo um aumento do gasto. Além disso, eles têm estabilidade, o que torna tudo mais difícil.
No mercado privado, a economia veio aumentando muito a oferta de emprego, mas o último Caged — Cadastro Geral de Empregados e Desempregados — mostrou uma redução no ritmo de criação de vagas no mercado formal. Ainda é forte, mas cresce numa velocidade menor. No ano passado, no primeiro semestre, foram criados 1,4 milhão de empregos com carteira assinada e, este ano, no mesmo período, 1 milhão. Esse indicador reflete tudo o que acontece no mercado formal; todas as empresas têm que informar ao Ministério do Trabalho demissões e contratações. Já na PME, Pesquisa Mensal de Emprego, que o IBGE não conseguiu divulgar ontem, os dados são captados em seis regiões metropolitanas, mas pegam todo o mercado de trabalho, seja formal, informal, por contra própria. A PME vem mostrando queda do desemprego.
Como ontem só foram divulgados os dados das regiões — não o número agregado, ficaram claras as diferenças. Em Recife, o desemprego subiu de 5,9% para 6,3%; em Salvador, caiu milimetricamente, mas tem um nível muito alto, de 8% para 7,9%; em Belo Horizonte, recuou de 5,1% para 4,5%; em São Paulo, foi de 6,2% para 6,5% e, em Porto Alegre, caiu de 4,5% para 4%. Os índices de Belo Horizonte e de Porto Alegre são de quase pleno emprego. Já o de Salvador mostra que, mesmo nos bons momentos, o desemprego lá é maior. Houve crescimento do rendimento médio real em quatro das cinco regiões, exceto São Paulo. No dado anual, em todas houve aumento, e o destaque vai para Recife com 13,4%.
Um mercado de trabalho aquecido sustenta o consumo e é uma boa notícia. No do Brasil, mesmo com baixo desemprego, as empresas ainda mantêm desigualdades na contratação, como mostram os números desagregados de desemprego e renda, seja por gênero, raça ou idade. Portanto, as empresas não estão com tanta oferta assim, tanto que ainda se permitem preterir e preferir na hora da contratação e da elevação dos salários.
A indústria, há muito tempo, reclama de crise, mas não tem demitido ainda de forma significativa. Isso porque a empresa só demite quando considera que a crise não é passageira. Começou a acontecer agora.
O sociólogo José Pastore disse que, se não ocorrer a esperada recuperação no final do ano, pode-se chegar a 2013 com um quadro bem menos favorável ao emprego. O que o preocupa mais são os dados divulgados pela Fiesp, mostrando que os custos do trabalho estão aumentando, mas a produtividade, caindo.
— Esse descasamento preocupa muito a indústria. Quando há esse hiato, ou se repassa para preços ou se corta no lucro, ou então, a empresa demite.
Pela pesquisa, a produtividade caiu 0,8% em um ano e os salários cresceram 3,4%. É uma mistura de fraco desempenho da produção e, ao mesmo tempo, aumento dos salários.
Não há uma resposta única quando se quer saber como vai o mercado de trabalho brasileiro. Ele tem temperaturas diferenciadas por setores e regiões.
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