Em assembleia geral realizada na manhã do dia 25, os trabalhadores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no Estado do Paraná decidiram por entrar em greve a partir do dia 27, quarta feira. A Fundação Pública Federal, ligada ao Ministério do Planejamento, encontra-se com seus servidores em greve em diversos estados, entre os quais, o Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, entre outros.
A adesão ao movimento grevista vem se expandindo por todos os cantos do país, fruto de insatisfações que alteram os ânimos dos servidores tanto das capitais como das agências de coleta do interior do Brasil.
Reconhecido pela população principalmente por desenvolver o Censo Demográfico, o IBGE tem, contudo, dezenas de outras atribuições, de modo que seus trabalhadores coletam periodicamente informações sobre a produção agrícola e industrial, a atividade do comércio e dos serviços, índices sobre emprego e desemprego, índices da inflação, coletando informações sobre o perfil da população, como migração, escolaridade, condições de saúde, de moradia, bem como produzindo e atualizando mapas, dentre tantas outras tarefas.
É o resultado da atividade dos trabalhadores do IBGE que subsidia e orienta o planejamento das políticas públicas estratégicas, seja na esfera federal, estadual ou municipal. O conhecimento da realidade brasileira é tarefa precípua deste órgão, que representa função estratégica no interior do Estado nacional, de modo que toda a população brasileira deve ser alertada sobre os riscos que a precarização da estrutura do IBGE pode provocar na qualidade das informações coletadas e divulgadas cotidianamente pelo órgão
O motivo central da greve é a reação dos trabalhadores contra o lento, mas contínuo processo de esfacelamento sofrido pela instituição, que, se não for contido a tempo, inevitavelmente impactará negativamente na qualidade dos dados produzidos. E este é o ponto que merece a atenção de toda a sociedade, uma vez que o barato pode ser sair muito caro. Não é demais lembrar a todos que foram os trabalhadores do IBGE que denunciaram, ainda na época da ditadura militar, as manipulações que o sr. Delfim Netto – então ministro da fazenda – estava operando nos índices inflacionários.
Uma vez que a qualidade dos dados seja comprometida, não serão só programas sociais que serão mal orientados, prejudicando a redução das desigualdades sociais ainda calamitosas nesse país. Mais do que isso, recursos das mais diversas naturezas acabarão por ser mal aplicados por se basearem em premissas equivocadas, importando em grandes desperdícios de dinheiro público.
Exemplo cristalino da precarização a que o IBGE vem sendo submetido é o fato de que hoje, no Paraná, mais de 50% dos trabalhadores são submetidos a contratos temporários. São trabalhadores que recebem um salário muito baixo, não tem direito a FGTS ou Seguro Desemprego e, por ter natureza temporária, tem seus contratos renovados mês a mês, de modo que ficam sujeitos à possíveis arbitrariedades da direção, podendo estar desempregados, sem direito a coisa alguma, dentro de alguns dias. O comprometimento com a importância do trabalho a ser realizado – tão necessário à boa qualidade das informações coletadas – é, por um lado, cobrado dos trabalhadores temporários, sem que, por outro lado, o órgão lhes ofereça contrapartida satisfatória.
E mesmo os servidores efetivos, submetidos a uma avaliação de desempenho da qual depende parcela de sua remuneração, vem sendo submetidos a um regime de trabalho cada dia mais extenuante, em face da ausência de concursos públicos já há 6 anos para o nível médio. Somado a tudo isso, vem a ausência de qualquer reposição inflacionária, que já vem sendo acumulada desde 2009. O aumento da demanda por pesquisas que investiguem a realidade brasileira vem sendo imposto sem que a instituição invista em uma ampliação proporcional de seu quadro de trabalhadores efetivos.
Desde o ano passado, a negociação vem sendo buscada junto ao governo sem que os interesses dos trabalhadores tenham sido atendidos. Pelo contrário, até agora, o governo ofereceu como contrapartida tão-somente a inércia do Estado. Neste contexto, assim como acontece com outras categorias do serviço público federal (professores universitários, técnicos das universidades e dos institutos federais de educação, o INCRA, etc.), infelizmente restou aos servidores o caminho da greve. Outras notícias, com maiores detalhes, serão repassadas nos próximos dias. Por ora, nos colocamos à disposição para maiores esclarecimentos.
Atenciosamente,
ASSIBGE – Sindicato Nacional
Núcleo do Paraná
Comando de Greve
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