Os trabalhadores do IBGE exercem
cotidianamente uma atividade de enorme responsabilidade. Comumente reconhecido
pelo Censo Demográfico, as pesquisas que coletamos e divulgamos periodicamente,
contudo, abrangem uma grande heterogeneidade de temas: produção industrial,
vendas do comércio, prestação de serviços, índice mensal da inflação, produção
agrícola e pecuária, cálculo periódico do PIB nacional, número de empregados e
desempregados, índices salariais, investigação das condições de moradia, saúde
e qualidade de vida da população brasileira. Não são pequenas as implicações
econômicas e sociais que influenciam o trabalho do IBGE.
O conhecimento mais próximo
possível da realidade brasileira depende da qualidade das informações coletadas
diariamente pelos trabalhadores do IBGE. Problemas na coleta de índices de
preço, da produção industrial e agropecuária, do movimento do comércio e dos
serviços, do monitoramento do mercado de trabalho e salários, das condições e
qualidade de vida da população não apenas prejudica o conhecimento fiel da
realidade brasileira, como atinge negativa e diretamente a formulação de
políticas públicas que tenham caráter efetivo na solução dos nossos históricos
problemas sociais.
Diante da importância estratégica
que o IBGE tem frente à sociedade, manda o bom senso que a instituição deva
providenciar condições ótimas para o desempenho deste trabalho. Entretanto, não
é isto que vem acontecendo. Boa parte do trabalho do IBGE vem sendo executada
por funcionários submetidos a contratos temporários precarizados, com
remuneração inferior a R$ 800, sem direito a FGTS, a Seguro-desemprego e que têm
seus contratos renovados mês a mês. No Paraná, cerca de 50% do quadro de
funcionários é composto por trabalhadores nestas condições. Embora eles
desenvolvam atividades idênticas aos servidores efetivos, vivem em regime de
trabalho que remonta às condições do século XIX. Por terem seus contratos aditados
mensalmente, são suscetíveis a possíveis imposições arbitrárias e equivocadas
das chefias, podendo ficar desempregados, sem direito a coisa alguma dentro de
poucos dias.
Se, para a instituição, esta precarização
impacta diretamente a qualidade das pesquisas – uma vez que influencia na
motivação dos temporários ao trabalho –, a situação pior recai sobre as costas
do trabalhador. Exemplo disso pode ser verificado em recente ocorrência na
região metropolitana de Curitiba. Durante a coleta da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD,) na região de Fazenda Rio Grande, um funcionário
temporário começou a se sentir mal e, não tendo como recorrer a nenhum serviço
público de saúde de emergência e não tendo nenhum convênio de saúde privado,
teve que recorrer a uma clínica particular. O preço do atendimento corroeu metade
do seu salário mensal.
Hoje, em assembléia geral dos
trabalhadores do IBGE que, diante da negativa do governo em atender as nossas
reivindicações, decidiu-se pela continuação da greve por tempo indeterminado,
os trabalhadores reunidos fizeram uma arrecadação voluntária de dinheiro com o
objetivo de minimizar – pelo menos pecuniariamente – os sofrimentos do colega. É
a solidariedade dos trabalhadores ocupando o espaço vago deixado por uma
política de precarização aplicada pela direção do IBGE.
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